sábado, 1 de dezembro de 2012

Aluguer de carro kafkiano em Caliningrado

A Rússia é um bocado diferente do ocidente, ainda guarda traços do tempo em que era considerada o segundo mundo.



Pensei que alugar carro lá fosse uma experiência normal, mas enganei-me. Para começar, exigem uma carta internacional. Tive que pedir uma no ACP traduzida para russo. Depois, pensei "Vou alugar na Hertz, que é uma empresa internacional reconhecida, não deve haver problema". Assim. Imprimi a folha com a reserva e no dia combinado dirigi-me à morada lá indicada. Depois de encontrar a rua pelo GPS, parecia difícil encontrar o número certo. Pedi ajuda num stand de automóveis e foram terrivelmente simpáticos: sente-se aqui, o meu colega fala inglês ele explica-lhe onde é. Até fez um desenho. Os habitantes de Caliningrado não estão habituados a turistas pelo que quando vêem um, abrem-se.

Ao seguir o desenho, vi que afinal estava na extremidade errada da rua, e que era a alguns quilómetros no outro extremo da mesma. Após uma longa caminhada, o número indicado na morada parecia apontar para um ferro velho. "Vamos chamar um táxi". Chamei um táxi, e no meu russo instantâneo disse-lhe que queria encontrar aquele local (note-se que os taxistas não falam inglês, tem que ser mesmo em russo). Obviamente, ele levou-nos novamente ao ferro-velho. Depois de se desdobrar em telefonemas para colegas, sugeri-lhe que ligasse para a Hertz, ao que alguém respondeu do outro lado a dizer que estava na avenida Moscovscaia. Bonito. O taxista lá nos levou a grande velocidade. Na tal avenida, num bairro residencial, lá se encontrava o funcionário da Hertz, personagem de cabelo grisalho, bigode e traços levemente asiáticos:

   - Então, estou à vossa espera há 2 horas :)
   - E nós à sua procura há 3. Fomos até esta morada!
   - É que já não funcionamos aí, a nossa loja é no aeroporto!

Lindo serviço. Não lhe ocorreu alterar no site da Hertz, empresa "de confiança".

Entrou no carro comigo. Depois de pedir os meus papéis e de me mostrar o contrato, chamei-lhe a atenção para o o facto de o pára-brisas estar partido!

    - Eu sei, não tem problema!

Descontracção russa. Depois, sem sair do carro, pediu para o levar para fora do bairro. Parecia querer testar as minhas capacidades de condução em solo russo. Alguns buracos depois, saímos do bairro e ele saiu, despedindo-se.

***

No último dia, foi necessário entregar o carro no aeroporto. Cheguei ao aeroporto e coloquei o carro num parque mesmo em frente à entrada para o terminal, no qual era preciso tirar um bilhete. Tirei o bilhete, estacionei, fui revistado e depois dirigi-me à Hertz. 

   - Bom dia!
   - Bom dia! Onde é que estacionou ?
   - Foi aqui mesmo à frente.
   - Ah, não era aí! Assim vai ter que pagar, vamos ter que retirar o carro para outro parque.

Só na Rússia.

 

1 comentário:

  1. Conclusão: Franz Kafka não era checo, mas sim russo :) A burocracia comunista russa no seu melhor.

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