terça-feira, 16 de abril de 2013

No coração de Margão




Margão é uma cidade. É uma cidade de Goa, a segunda maior cidade do território, logo a seguir a Vasco da Gama e à frente de Pangim (Nova Goa), a capital. É também o nome de uma ancestral marca de especiarias, vendidas em Portugal, cujo nome não foi escolhido ao acaso, mas naturalmente para homenagear a cidade goesa, onde no novo mercado, e não só, se vendem especiarias ao peso, assim como malaguetas fritas, chamuças e incensos. Ao lado deste novo mercado, que fica ainda algo distante do antigo, existe o formoso edifício da câmara municipal, de frondosas arcadas e ditosas sombras. O jardim municipal, pejado de estátuas homenageando goeses insignes, separa-o dos portentosos correios, formando uma grande praça central.

Situa-se na região de Salcete e tem, não muito longe de si, a oeste, a bonita praia de Benaulim. Nesta praia, há pescadores, seus barcos de azuis fortes, suas pescarias enredadas à espera de serem desemaranhadas e vindalho de boa cepa. Mas isso é, digamos que, outra história. Não nos desviemos e voltemos a Margão. 

Margão é quente. E aqui o quente refere-se à temperatura do ar, às cores das casas e ao fervilhante trânsito. Muitas das casas, quer no centro, quer nas suas proximidades, ostentam uma marcada arquitetura portuguesa, que se manifesta nos traços das janelas e nos telhados, para além de outros elementos. As cores utilizadas, viajando pelos vermelhos, verdes e amarelos intensos, tornam-na indo-portuguesa, saborosa e miscigenada, como os pratos goeses. Conduzir pelas ruas dos antigos bairros de Margão é mergulhar numa aventura cromática viva e muito plástica, em que as fachadas indo-portuguesas variadas se vão sucedendo, com laivos de branco por entre as demais tintas, ao mesmo tempo que é necessário ultrapassar desconcertantemente motas e outros obstáculos, em perigo latente constante, antes de aparecer um cruzamento que obriga o condutor português, pouco habituado a carros indianos, a hesitar quanto a qual dos manípulos escolher, o direito ou o esquerdo, para ligar o indicador de mudança de direção, vulgarmente designado como pisca, bastante menos útil na Índia que em outros lugares. A opção correta seria o direito, precisamente ao contrário dos carros portugueses, só para facilitar. Virando à esquerda e circulando pela esquerda, aparece uma antiga casa do governo, pujante, amarela, transformada hoje noutra coisa qualquer, acompanhada por um casarão verde, do outro lado da estrada. Mais adiante, uma rotunda. É necessário buzinar, antes de entrar, várias vezes, vigorosamente, para mostrar com clareza a intenção de ganhar prioridade e de prosseguir caminho. Milagrosamente, o universo converge e os restantes utentes da via adaptam-se, parando ou contornando o veículo em marcha, sem nunca o macular com qualquer colisão, em Margão.

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