domingo, 14 de abril de 2013

Os corvos de Goa


Quando alguém que nunca tenha visitado Goa pensa em criaturas que lá vai poder encontrar, pensa normalmente em vacas e elefantes. Não pensa propriamente em corvos. Mas, como tantas vezes acontece quando se imagina um acontecimento futuro, mais precisamente quando se imagina como vai ser um sítio nunca dantes visitado, a realidade traz sempre consigo memoráveis surpresas. Goa está cheia de corvos. Não são exatamente iguais aos de Portugal. Têm uma penugem cinzenta, que se estende do pescoço até ao dorso, e gostam muito de estar na praia. Alguns deles estão tão habituados à presença humana que não têm medo de pousar perto das mesas dos bares e restaurantes, como se estivessem a solicitar comida. Quem já os conhece, atende a esse pedido e lança-lhes pedaços de matéria comestível. Comem alguns no próprio local e outros levam-nos para longe, talvez para algum esconderijo onde os consumirão mais tarde. Fazem voos curtos, entre postes ou árvores adjacentes, quando alguém abusa e perfura a sua bolha social, para os fotografar, por exemplo. Mas o maior testemunho da sua presença constante é mesmo o seu canto, o seu crocitar. Estão sempre a crocitar, por alguma razão válida certamente. 

E foi a ouvi-los crocitar que o cronista destas linhas acordou todos os dias que passou em Goa.

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